Em 1998 um jovem patologista chamado Gustavo Ayala começou a analisar um acontecimento pouco explorado com células cancerosas. Esse acontecimento chamou sua atenção, fazendo com que ele ficasse intrigado e fosse observar: ‘’ A tendência de algumas células cancerosas de se enrolar em torno de nervos e crescer ao longo deles’’. A questão é que, ninguém sabia explicar como isso acontecia.
Ayla fez testes colocando nervos espinhais de um camundongo em um prato ao lado de células cancerosas de próstata humano. O seu relato foi de uma simbiose, foram os nervos que alcançaram o câncer. ‘’Eles se alongaram em direção às células cancerosas e cresceram no meio da colônia.’’ Daí a suposição de atração mútua, onde as duas colônias de células se expandem em um encontro.
A conclusão da descoberta foi que os nervos que se ramificam no nosso corpo são parceiros para o câncer à medida que ele cresce e se espalha. ‘’As células nervosas periféricas produzem moléculas que parecem ajudar no crescimento das células cancerosas.’’ ‘’Eles não são espectadores’’, disse a bióloga Paola Vermeer que estuda essa interação de câncer-nervos. ‘’Eles são participantes ativos no processo da doença.’’
Estresse Crônico e Pesquisas
Essas revelações podem ajudar a explicar uma ligação entre o estresse crônico e o progresso do câncer. Foi feito testes em animais mais estressados e o câncer progrediu mais rapidamente. Inclusive houve alguns estudos que sugeriram a relação do estresse crônico com uma probabilidade do aumento de câncer. ‘Ouvir’ sinais de nervos simpáticos ajuda as células cancerosas a sincronizar sua invasão em períodos de estresse. Pois, à medida que o câncer cresce, o sistema imune começa a agir.
Um dos focos da pesquisa foi o sistema nervoso simpático, que libera epinefrina e norepinefrina. Pois muitas células do corpo incluindo as cancerosas são repletas de receptores β-adrenérgicos onde os hormônios se ligam. Esses receptores parecem incentivar as células cancerosas a se desenvolverem.
Um pesquisador em 2006 relatou que poderia levar um tumor a crescer expondo-o ao estresse crônico ou usando uma droga que ativaria os receptores β-adrenérgicos. Em ambos os casos houve o crescimento, e que quando bloqueou os receptores impediu-se o crescimento. Esse e outros estudos mostraram que células cancerosas estavam em alerta quanto aos sinais do sistema nervoso.
Em 2013 pesquisadores revelaram que pequenas fibras nervosas eram, de certa maneira essenciais para o crescimento do tumor. E que quando cortaram os nervos vizinhos o tumor simplesmente não cresceu. Outra descoberta foi que quanto mais nervos dentro e ao redor do tumor de próstata, no caso, mais rápido ele tenderia a se espalhar. Outros estudos apontaram que a remoção de nervos pode prevenir a formação de tumores gástricos e pancreáticos, e em outros locais.
No desenrolar dos avanços de estudos foi-se documentando vários casos, onde por exemplo, os nervos próximos aos vasos sanguíneos pegam carona em um tumor, afinal ele recruta vasos sanguíneos para fornecer oxigênio. Outro exemplo é de células cancerosas produzindo sinais moleculares que pode levar nervos próximos a formar novas projeções, e que, inclusive algumas evidências sugeriram que os sinais do câncer podem levar o corpo a produzir novos neurônios a partir de células-tronco.
Um artigo dos artigos mostrou em camundongos que, células precursoras neurais no cérebro parecem migrar para um tumor de próstata para supri-lo com neurônios.
A dúvida que fica é: por que as células cancerosas formariam alianças com os nervos? Uma hipótese é que, onde tem um tecido cheio de nervos é simplesmente um lugar ideal para o câncer.
Até os macrófagos estão envolvidos. Eles são recrutados para destruir tecidos próximos, secretar moléculas promotoras de crescimento e recrutar vasos sanguíneos.
Várias evidências apontam para essa interação mútua de células nervosas e cancerosas, há diversos fatores a mais, que acontecem nesta dinâmica. Com mais estudos e uma melhor documentação revisando tudo o que se sabe na literatura deste assunto, pode-se desenvolver novas drogas que ajudem a tratar esta causa. No entanto, aí vai mais umas boas décadas de pesquisa sobre medicamentos eficazes.
Um destaque que quero dar é que, o correto é, célula cancerosa, e não cancerígena.