O mundo assombrado pelos demônios
O mundo assombrado pelos demônios de Carl Sagan é um livro que mostra o papel da ciência e sua importância na sociedade, e também o lado da pseudociência, que como se aparenta ser ciência engana muita gente. Carl Sagan mostra diversos argumentos e nos ensina a ficar em alerta quanto a diversas evidências anedóticas, textos sensacionalistas e ter um pensamento crítico.
Trechos que achei interessante para que a sociedade tome conhecimento e para quem leu e quiser relembrar estas partes. Recomendo a leitura completa.

A Ciência desperta um sentimento sublime de admiração. Mas a pseudociência também produz esse efeito. As divulgações escassas e malfeitas da ciência abandonam nichos ecológicos que a pseudociência preenche com rapidez. Se houvesse ampla compreensão de que os dados do conhecimento requerem evidência adequada antes de poder ser aceitos, não haveria espaço para a pseudociência. Mas na cultura popular prevalece uma espécie de Lei de Gresham, segundo a qual a ciência ruim expulsa a boa.
Podemos rezar pela vítima de cólera, ou podemos lhe dar quinhentos miligramas de tetraciclina a cada doze horas. (Ainda existe uma religião, a ciência cristã, que nega a teoria que atribui as doenças a micróbios; se a oração produz efeito, o fiel prefere que os filhos morram a lhes dar antibióticos.)
Podemos tentar a quase inútil terapia psicanalítica pela fala com o paciente esquizofrênico, ou podemos lhe dar trezentos a quinhentos miligramas de clazepina. Os tratamentos científicos são centenas ou milhares de vezes mais eficazes do que os alternativos.
A pseudociência difere da ciência errônea. A ciência prospera com seus erros, eliminando-os um a um.
A pseudociência é exatamente o oposto. As hipóteses são formuladas de modo a se tornar invulneráveis a qualquer experimento que ofereça uma perspectiva de refutação, para que em princípio não possam ser invalidadas. Quando a hipótese pseudocientífica não consegue entusiasmar os cientistas, deduz-se que há conspirações para eliminá-la.
Talvez a distinção mais clara entre a ciência e a pseudociência seja o fato de que a primeira sabe avaliar com mais perspicácia as imperfeições e a falibilidade humanas do que a segunda.
Nem todo ramo da ciência pode prever o futuro – a paleontologia não tem essa capacidade -, mas muitos o conseguem, e com uma exatidão espantosa. Se você quiser saber quando será o próximo eclipse do Sol, pode procurar mágicos ou místicos, mas terá melhor sorte com os cientistas.
Você pode ir ao feiticeiro-curandeiro para que ele desfaça o feitiço que causa a sua anemia perniciosa, ou tomar vitamina B12. Se quiser salvar seu filho da poliomielite, pode rezar ou vaciná-lo.
Pense em quantas religiões tentam se validar com profecias. Pense em quantas pessoas se baseiam nestas, por mais vagas e irrealizadas que sejam, para fundamentar ou sustentar as suas crenças. No entanto, já houve alguma religião com precisão profética e a confiabilidade da ciência? Não existe nenhuma religião no planeta que não deseje ter uma capacidade comparável – precisa e repetidamente demonstrada diante de céticos convictos – de prever os acontecimentos futuros. Nenhuma outra instituição humana chega perto do seu desempenho.
Qual é o segredo do sucesso da ciência? Em parte, é esse mecanismo embutido de correção de erros. Não existem questões proibidas na ciência, assuntos delicados demais para ser examinados, verdades sagradas. Essa abertura para novas ideias, combinada com o mais rigoroso exame cético de todas as ideias, separa o joio do trigo. Não importa o quanto você é inteligente, augusto ou amado. Tem de provar a sua tese em face de uma crítica determinada e especializada. A diversidade e o debate são valorizados. É estimulada a discussão de ideias.
Que líderes dos principais credos reconhecem que suas crenças talvez sejam incompletas ou errôneas e criam institutos para revelar possíveis deficiências doutrinárias?
É perigoso produzir apenas um grupo pequeno altamente competente e bem remunerado de profissionais ao contrário uma compreensão fundamental das descobertas e métodos da ciência deve ser divulgada na mais ampla escala.
Cada área da ciência tem seu próprio complemento de pseudociência.
Toda era tem sua loucura peculiar; algum plano, projeto ou fantasia em que mergulha, estimulada pelo amor do ganho, pela necessidade de emoção ou pela simples força da imitação. Se tudo isso falhar, ela ainda assim possui uma loucura, que é a que é incitada por causas políticas ou religiosas, ou ambas combinadas.
Não é preciso um diploma de nível superior para conhecer a fundo os princípios do ceticismo, como bem demonstram muitos compradores de carros usados que fazem bons negócios. A ideia da aplicação democrática do ceticismo é que todos deveriam ter as ferramentas essenciais para avaliar efetiva e construtivamente as alegações de quem se diz possuidor do conhecimento. O que a ciência exige é tão somente que façamos uso dos mesmos níveis de ceticismo que empregamos ao comprar um carro usado ou ao julgar a qualidade dos analgésicos ou da cerveja pelos seus comerciais na televisão.
O antropólogo de Yale Weston La Barre chega ao ponto de afirmar que “seria surpreendentemente razoável propor que grande parte da cultura é alucinação”, e que” todo o propósito e função do ritual parece ser [...] o desejo de [um] grupo de alucinar a realidade”.
É tão premente no povo a necessidade de acreditar em alguma coisa que a queda de qualquer sistema mitológico será muito provavelmente seguida pela introdução de algum outro modo de superstição [...].
A ciência pode ter expulsado os fantasmas e as bruxas das nossas crenças, mas com igual rapidez preencheu o espaço vazio com alienígenas que desempenham as mesmas funções. Só use enfeites Exteriores dos extraterrestres são novos. Todo o medo e todos os dramas psicológicos de lidar com o problema parecem simplesmente ter encontrado mais uma vez o seu lugar, constituindo como sempre a atividade do Reino das lendas, onde as coisas explodem à noite.
Quando é do conhecimento de todos que os deuses descem a Terra, nós talvez tenhamos alucinações com deuses; quando todos nós estamos familiarizados com demônios aparecem os íncubos e os súcubos; quando os doentes são aceitos por toda a parte, vemos duendes; numa era de espiritualismo, encontramos espíritos; e quando os antigos mitos se enfraquecem e começamos a pensar que os seres extraterrestres são plausíveis, e para eles que tendem as nossas imagens hipnagógicas.
A credulidade mata.
Por que tanto sofrimento evitável, que Deus poderia impedir com facilidade? E, afinal, porque se tem que rezar a Deus? Ele já não sabe as curas que precisam ser realizadas?
Um fator importante na popularidade atual das ideias da “Nova Era” é a reação contra os efeitos desespiritualizadores e desumanizadores do cientificismo, a crença filosófica (disfarçada de ciência objetiva e sustentada com tenacidade emocional do fundamentalismo dos renascidos) de que nada somos senão seres materiais. Adotar sem pensar qualquer coisa rotulada de “espiritual”, “mediúnico” ou da “Nova Era” é certamente tolice, pois muitas dessas ideias estão de fato erradas, por mais Nobres ou inspiradoras que sejam. Por outro lado, esse interesse pela Nova Era é um reconhecimento legítimo de algumas das realidades da natureza humana: as pessoas sempre tiveram e continuam a ter experiências que parecem “mediúnicas” ou “espirituais”.
Mas por que as experiências “mediúnicas” questionariam a ideia de que somos feitos de matéria e do de nada mais além da matéria? não há muita dúvida de que, no cotidiano, a matéria (e a energia) existe. A evidência está por toda parte, ao redor de nós. Por outro lado, a evidência de algo não material, chamado “espírito” ou “alma”, é muito questionável.
A pseudociência e a superstição tendem a não reconhecer limites na natureza. Em vez disso, “todas as coisas são possíveis”. Elas prometem um orçamento de produção ilimitado, por mais que seus adeptos tenham sido tantas vezes desapontados e traídos.
Se somos apenas céticos, as novas ideias não conseguem penetrar em nossa mente. Nunca aprendemos nada. Nós nos tornamos misantropos mal-humorados, convencidos de que a tolice governa o mundo. (Há, sem dúvida, muitos dados que confirmam essa opinião).
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